quarta-feira, 23 de junho de 2010

Segunda vida

- Não, não precisa terminar assim ! Eu dou um jeito, você pode deixar de viver essa opressão ! Eu te amo, cuido de você !

- Não Alice, não posso ! Essa é a minha vida. Não posso simplesmente deixá-los para trás !

E assim, Alice viu-se perdida em sua cabeça, apenas lembrando-se de todos os momentos que vivera até ali.

Alice Lopes de Sá, menina mascarada. Escondia de si mesma seu verdadeiro interior, preferindo viver em um mundo supostamente mais fácil. No entanto ela não esperava que a vida lhe direcionaria para seu verdadeiro caminho de uma forma tão inusitada.

Teve uma infância normal nas condições básicas, brincou e bagunçou o quanto pôde e em sua adolescência vivenciou sua primeira experiência. Na fase de descoberta ela e sua amiga se beijaram e pela primeira vez sentiu uma emoção diferente, a qual reprimiria por longos anos.

Namorou com alguns garotos, porém nunca se sentia completa, eram relacionamentos demasiadamente curtos. Ela sabia que havia algo diferente, mas preferiu fingir que não tinha conhecimento.

Danilo, seu namorado, lhe apresentou algo peculiar. Second Life. Um jogo ainda desconhecido no Brasil, mas que já fazia um grande sucesso no exterior. Este se baseia em fazer amigos através de um avatar. É, como diz o próprio nome, uma segunda vida, lugar no qual pode fazer tudo o que às vezes a vida real limita.

Após ter adentrado este mundo mágico, encontrou-se. Viu que aquele mundo era de fato maravilhoso ! Podia ser a mulher que quisesse, na forma que cobiçasse e podia conquistar as coisas que almejasse ! Isso foi só o início de tudo.

Não saia de casa, não fazia nada além de vivenciar aquilo, de uma forma até doentia. Em algum tempo viu-se apaixonada por um rapaz, e no jogo, lutou de todas as formas para tentar tê-lo em sua vida, contudo depois de algumas semanas descobriu que não era um homem de fato. Não passava de uma mulher por trás daquele avatar masculino. Perdeu a cabeça, sentia que a vida estava tentando guiá-la para o caminho que sempre tendeu, mas não. Relutou. Não aceitava aquilo. Impossível.

Tentou esquecer aquele fato e namorou o tanto quanto pudesse. E então, novamente mais uma peça. Conheceu outro rapaz que lhe parecia perfeito. Apaixonou-se profundamente e depois descobriu que este, a quem entregou seu coração, não passava de outra mulher ! Após ter entrado em um colapso nervoso resolveu que talvez fosse a sua hora. Decidiu tentar, no entanto a idéia de estar com outra mulher a remeteu em muitos pensamentos “Como seria uma vida com ela? Será que a minha família me aceitaria? Será que eu sofreria muito preconceito? Será que eu vou gostar?”. E em meio a tantas perguntas desistiu.

Mas a vida não a deixaria escapar assim e aprontou mais uma. No dia internacional do Orgulho Nerd, ela resolveu fazer uma brincadeira. Abriu uma conferência e disse que gostaria de conhecer um rapaz inteligente. E quem apareceu? Ele.

Quem é ele? Ricardo, pessoa a quem ela sempre sentiu vontade de conhecer. Um cara bacana, engraçado, atencioso, carinhoso, prestativo e acima de tudo, inteligente. Gostava de quase as mesmas coisas que Alice e isso a fez se encantar cada vez mais.

Ele foi se aproximando e cativando mais o coração dela. Ela por sua vez, tentava conquistá-lo. E passado um tempo ambos estavam apaixonados e namorando. Ele a pediu em casamento no jogo e ela aceitou prontamente. Quase as vésperas do casamento a revelação. Ricardo chamava-se Karlla, era uma mulher. Contudo desta vez Alice não se importou, dessa vez era amor e não importava o que pensariam dela, estava disposta a vivê-lo intensamente. Chegou a sua hora e não ia deixar mais uma vez, que se dissipasse. Agarraria a oportunidade com todas as forças.

Depois desta revelação continuaram namorando, contudo à distância, fazendo planos de como seria quando se encontrassem, de como seriamos os filhos, e todas as coisas que corações apaixonados influenciam a pensar. E com algum tempo de amor pleno, as dificuldades começaram a surgir.


E então o presente ressurgiu.


A decepção, a frustração, a amargura tomou conta do coração de Alice. Sentia que a vida não teria mais sentido. O que faria sem Karlla? Ela, naquele momento, era o seu porto seguro. Aceitou a desistência da companheira por pura conveniência, não poderia fazer nada. Moravam longe, ela não tinha condições de ir vê-la prontamente.

Ela parou de jogar Second Life e decidiu que se era ali que seu relacionamento teria acabado não iria se deixar entristecer, a vida tinha mais a oferecer. Karla foi uma linda história escrita em sua vida porém já havia passado. Tinha certeza de que outras iriam vir e conquistariam seu coração. Entretanto sabia, no fundo de sua alma que ela seria sempre a mulher de sua vida, afinal de contas é seu primeiro amor, e dele não esquecemos jamais.

Contudo ela não sabia que era ali era apenas o começo de sua história. Que deixaria de ser mera coadjuvante em sua própria vida, a sua vida real. O mundo estava apenas esperando para abraça-la.

2 comentários:

  1. Ótimo texto. É você quem os escreve?

    Muito obrigado por tem comentado no meu blog
    ; ]

    A gente vai se falando.

    Beijos
    Se cuida.

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  2. Bem, tudo isso seria facilmente resolvido com uma simples frase: _Por favor, liga o voice? (((Tô adorandoooo)

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