domingo, 27 de junho de 2010

Patricia - Maktub

- Olha mãe, que sapato lindo !!

- Nossa Patricia, e está na promoção ! Será que tem minha numeração?

Ambas entraram rindo na loja e experimentaram todos os sapatos que puderam até achar o par ideal para ambas.

Olhando distraidamente pela vitrine, Patricia avistou uma linda menina, seus cabelos cacheados e loiros lhe chamaram a atenção. Esta estava passando com algumas sacolas na mão, aparentemente com algumas amigas rindo alegremente em direção a praça de alimentação do shopping.

Patricia a seguiu com os olhos, admirada por sempre vê-la e nunca tê-la conhecido. Achava engraçada a coincidência. Seria realmente o acaso ?

Lembrava-se de tê-la visto em diversos outros locais como cinema, museus, teatros e livrarias. Lugares que ia rigorosamente. Amava cultura de uma forma ampla, se sentia mais feliz quando podia conversar sobre qualquer coisa com qualquer pessoa. Amava se sentir inteligente - ser apenas bonita não adiantava - pensava ela.

Chamou a mãe para ir com ela a praça de alimentação, inventara uma desculpa qualquer. Sentou-se próxima a garota e ficou a contemplando. Como era linda ! Seu sorriso era simplesmente contagiante, ficava admirada em como a moça exercia magnetismo sobre ela.

Sua mãe estava lhe contando as novidades, as conversas com suas amigas e ela lhe respondia de uma forma vazia. Estava em um mundo onde só existia ela e sua Afrodite.

Dona Licinha simplesmente parou. E Patricia nem notara. Estava tão absorta que simplesmente não percebeu. Quando se deu conta sua mãe estava lhe olhando com uma cara desconfiada e ela decidiu que aquele seria o momento ideal. Havia planejado há algum tempo. Parou e respirou. - Isso às vezes funciona - pensou ela.

- Bem mamãe, não imagino por onde começar mas creio que isto deveria já ter sido dito há algum tempo.

Sua mãe lhe olha com uma cara desconfiada e a observa em cada gesto. Ela notou isso e tentou não demonstrar tanto receio.

- Enfim, mamãe, há algum tempo eu tenho uma certeza da minha vida e não queria que você ficasse contra isso. Eu te amo e desejo sua felicidade independente de qualquer coisa, assim como espero que você anseie pela minha.

Sua mãe continua resoluta. Não abre a boca para dizer-lhe nada, apenas balança com a cabeça para que ela dê continuidade à conversa.

- Mamãe, sou homossexual – Fecha os olhos, abaixa a cabeça e espera alguma reação de dona Licinha.

Ela estava simplesmente estupefata, já havia percebido algumas olhadas da filha para as mulheres, contudo isso era muito mais do que um simples desejo. Ela estava assumindo algo que estava simplesmente fora de controle. Não podia ser, sua pequena envolvida com mulheres? Como seria capaz disso? Não conseguia nem imaginar. Ao fim deste turbilhão de pensamentos disse:

- Olha minha filha, eu simplesmente não acredito. Deve ser só fase, depois passa.

- Não mamãe, não é fase. Eu sei que não é. Há muito tempo que eu tenho me apaixonado por mulheres. Eu não sinto atração por homens, às vezes ficava por pura conveniência, mas era um sacrifício pra mim. Definitivamente eu sou homossexual.

- Não Patricia, eu não lhe criei pra isso mocinha ! Trate de mudar ! Isso não pode ser possível, onde já se viu. Homossexual. Deve ser mais uma de suas invenções ! Quero ver ! Daqui há alguns dias estará com outra idéia na cabeça !

- Não mamãe, tente entender ! Isso não é uma opção, é um fato. Eu simplesmente sou. Não há o que discutir. Eu sei que é difícil para senhora aceitar agora, mas um dia irá absorver isso. Eu só queria que soubesse ! Amanhã eu irei a parada gay. Será um alivio pra mim. Eu te amo mãe, mas preciso pensar em mim um pouco !

- Eu só quero ver até onde isso vai dar Patricia ! Isso irá estragar a sua reputação ! Não pensa nisso? E o preconceito que você irá enfrentar minha filha, tudo isso por nada? Pensa no que está fazendo ! O nome da nossa família irá para lama !

- Mãe, pare de pensar nas conveniências, pense em minha felicidade ! Não vai ser fácil pra mim enfrentar o mundo lá fora, não quero que na minha casa também seja um inferno ! Por favor mãe, mesmo que não entenda, aceite !

- Olha Patricia, eu prezo sua felicidade e por isso estou lhe dizendo essas coisas. É só modinha! Já já isso passa !

- Não mãe, não é ! E você queira aceitar isso ou não é um fato. Não quero mais discutir o assunto.

Então levantou-se da mesa e chorando foi ao banheiro. - Pensei que mamãe sendo tão liberal fosse aceitar isso de uma forma mais tranqüila. Como fui tola ! Mas sei que irei conseguir sobrepujar estes episódios – Este acontecimento não iria lhe tirar a felicidade de ser finalmente assumida ! Enxugou seu rosto e saiu do banheiro. Finalmente deixou a máscara para trás.

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